Hormônios associados à adiposidade Leptina, Adiponectina e Grelina
Adiposidade é definida como o acúmulo do excesso de tecido adiposo, que se desenvolve quando o consumo de energia excede o gasto energético. Este equilíbrio é afetado por fatores orexígenos (indutores da fome) e anorexígenos (indutores da saciedade), alguns dos quais são hormônios secretados pelo próprio tecido adiposo. Os três hormônios mais importantes reguladores do apetite são: leptina, adiponectina e grelina.
Rotineiramente, mede-se adiposidade usando parâmetros antropométricos como índice de massa corporal (BMI). Porém, este índice não distingue massa magra de massa gorda. Medidas que incorporam a circunferência da cintura, geralmente são superiores ao BMI, porém, também tem suas limitações.
As gorduras visceral e subcutânea, secretam ou são afetadas por numerosos hormônios polipeptídeos. Os hormônios secretados pela gordura são chamados adipocinas. A gordura visceral tem um impacto muito maior sobre as doenças cardiometabólicas por causa de sua atividade metabólica. Adipócitos viscerais secretam citocinas inflamatórias que contribuem para a inflamação sistêmica e a resistência à insulina. Eles também secretam ácidos graxos livres que levam a hiperlipidemias clínicas e deposição ectópica das gorduras, bem como componentes da enzima conversora de angiotensina que aumentam a pressão sanguínea.
Leptina
É um dos hormônios reguladores do apetite mais conhecidos. Os experimentos iniciais com ratos demonstraram que a leptina é um hormônio anorexígeno e que um déficit de leptina poderia produzir um sinal orexígeno.
Interessantemente, alguns experimentos mostraram um ciclo vicioso de resistência à leptina, no qual o hipotálamo se torna insensível à leptina.
Estudos em modelos animais sugerem que a leptina exógena pode ser útil como terapia para perda de peso e antidiabetes. Alguns estudos mostraram que a leptina reduz os níveis de glicose em modelos de ratos com diabetes tipo 1 e tipo 2, indicando fortemente que o efeito é independente dos níveis de insulina.
Vários trabalhos relataram também benefícios com o tratamento usando leptina em doenças hepáticas, amenorreia hipotalâmica, lipodistrofia e lipotoxicidade.
Adiponectina
Adeponectina é um hormônio associado com a obesidade e diabetes tipo 2. Como no caso da leptina, a adiponectina também é secretada pelo tecido adiposo. Porém, a adeponectina alcança níveis de concentração muito mais elevados do que a leptina e outras proteínas plasmáticas.
Diferente da leptina, a concentração da adiponectina é inversamente associada com a quantidade de tecido adiposo, mesmo ela tendo um efeito anorexígeno similar ao da leptina.
Concentrações de adiponectina podem não mudar em indivíduos obesos, a menos que uma perda de peso relativamente grande ocorra.
Em modelos animais, a expressão excessiva de adiponectina previne o acúmulo lipídico hepático, fazendo com que os adipócitos proliferem. Semelhante aos efeitos da leptina, isto melhora a sensibilidade da insulina porque o lipídeo ectópico interfere com a sinalização da insulina e causa inflamação e apoptose. Estes processos, obviamente tem importantes implicações para as funções do fígado, células beta e dos rins.
Ela também aumenta a beta oxidação dos ácidos graxos, diminui a lipogênese no fígado e músculo esquelético via fosforilação de ACC-1, e ajuda prevenir NAFLD de progredir para NASH em modelos animais.
Outros aspectos observados em modelos animais foram: aumentos na angiogênese e na síntese de óxido nítrico. Notavelmente, a adiponectina é um potente sintetizador de insulina que aumenta a captação de glicose nos adipócitos, reduzindo a cascata de sinalização celular. Apesar da adiponectina estar associada à diversas doenças importantes, ainda não está claro como os clínicos deverão atuar diante de um resultado anormal, especialmente, um resultado baixo.
Grelina
A grelina é uma proteína produzida pelo hipotálamo, e está presente nas formas acilada (5%) e não acilada (95%), as quais podem ter diferentes efeitos fisiológicos. Diferente da leptina e adiponectina, a grelina é um hormônio orexígeno bem conhecido. Ela provoca secreção do ácido gástrico e aumenta a motilidade intestinal.
A forma não acilada é secretada durante a restrição calórica prolongada que estimula o hipotálamo, provocando a secreção de proteínas indutoras da fome. Após a alimentação, a concentração de grelina volta aos valores basais.
A grelina está negativamente associada à BMI em homens, e diversos estudos indicam que ela não volta aos valores basais em indivíduos obesos após a ingestão de alimentos.
A grelina é responsável pela severa obesidade observada na Síndrome de Prader-Willi. Estes pacientes tem hipergrelinemia, apetites vorazes e são severamente obesos. Além disto, a grelina tem outros efeitos sobre os adipócitos e lipídeos. Ela aumenta a proliferação e diferenciação de pré-adipócitos em adipócitos.
A grelina também estimula o acúmulo lipídico e diminui a secreção de insulina e a sensibilidade à insulina, provocando elevação nos níveis de glicose.
Isto provavelmente ocorre por causa da liberação aumentada de ácidos graxos dos adipócitos, causando a deposição ectópica de gordura.
Como a grelina é produzida pelo estomago e partes do sistema gastrointestinal, a cirurgia bariátrica reduz os níveis plasmáticos de grelina, ajudando na redução do apetite e induzindo a perda de peso.
Conclusão
As dosagens de leptina, adiponectina e grelina são testes altamente especializados com limitadas utilidades clínicas.
O conhecimento das aplicações clínicas destes hormônios, irá auxiliar os profissionais clínicos e de laboratório, a compreender melhor suas utilidades e limitações.
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*Este material tem caráter meramente informativo. Não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte seu médico.